Parte II
Desci a passarela ansiosa. Estava escuro. Onda ele estaria? Tentei ser o mais blasé possível. Evitei ficar observando todos os lados (mesmo sendo o que internamente era o que meu corpo pedia). Na ponta da passarela olhei para esquerda e logo avistei um sorriso. Lá estava ele, encostado em um carro escuro, com uma roupa escura. É o que lembro.
Fui na sua direção. "Oi, tudo bem?" Nos cumprimentamos amigavelmente - três beijos no rosto - e entrei no carro.
Ficamos ali, sentados, conversando um pouco sobre futilidades e coisas de trabalho.Ele revelou que não tinha olfato. Aff! Tanto perfume por nada. Era até engraçado a ironia do destino.
Bem, passada a primeira meia hora de contato, nenhuma pergunta pessoal foi feita. Não estava interessada em saber sobre os relacionamentos dele ou coisas assim. Tinha para mim que ele não era o tipo de cara que faria isso - enganaria alguém. Mesmo sendo mais velho que eu. Ele também não perguntou nada a esse respeito. Apenas um comentário verdadeiro, porém infeliz, trouxe-me à realidade. "Todo mundo tem uma história. Ninguém fica 100% sozinho sempre". Era o sinal de que ele poderia ser um porkis. Merda.
No meio desses papinhos chatos surgiu a ideia de darmos uma volta. Não, não era um motel. Procuramos alguns bares, mas em Canoas, por volta das 23h não há nada aberto além dos postinhos. Foi num destes que paramos. Entre uma coca-zero e um ice tea de pêssego (sim, meu lindinho também não bebe...iupiiii) ele segurou minha mão.
Estava vivendo uma história de adolescente. Aquele homem tão bonito, com olhos penetrantes e um sorriso único, ali, pegando na minha mão. Ficamos algum tempo acariciando nossas mãos, até que, como manda os bons costumes, ele puxou-me para perto do seu peito e nos beijamos.
Lembro fielmente a sensação que tive com aquele beijo. Intenso, aveludado e forte. Enfim, as duas almas se conectaram.
Já era tarde e eu precisava ir embora. Ele fez o convite trivial (vamos para um lugar mais reservado?). Nem respondi. Ele não insistiu. Percebeu que a intenção não era uma transa causal. Mais beijos e a despedida. Não combinamos nada certo. Nenhum novo encontro. Apenas a possibilidade de, quem sabe, nos encontramos em um evento que haveria dias depois. Estava segura de que ao amanhecer do dia receberia uma ligação dele. Não aconteceu. Nem no outro dia, nem nos quatro seguintes. Nada. Ele simplesmente sumiu. Eu também não procurei.
Deixei mais uma vez tudo nas mãos do destino.
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